Sabe-se que o termo “libido” já havia sido mencionado por outros estudiosos, tal como Agostinho e Moll (Libido sexualis, 1898), contudo foi com Freud em 1978 em um de seus ensaios, que o pai da psicanálise teoriza sobre essa pulsão sexual e consequentemente os seus desdobramentos, tais como a bissexualidade e a inversão.


Na antiguidade, a libido era valorizada e possuía certa ênfase no comportamento social, contudo, Freud destaca que nas civilizações modernas a libido passa a ser reprimida, uma vez que o médico entendia que foi por grande influência da cultura judaico-cristã que o erotismo e a relação sexual passaram a ser interpretadas a partir da necessidade de uma justificativa romântica que enfatiza o valor da relação sexual nos limites do casamento monogâmico. Nesse molde, nota-se que desde de o início da puberdade o jovem vive um constante estado reprimido de suas pulsões libidinais.
No que tange a definição do termo Libido, Freud (A Teoria da Libido, de 1922/23) aponta a definição lançada por Moll (1898): é o termo empregado na teoria das pulsões para descrever a manifestação dinâmica da sexualidade, uma forma de “energia ou pulsão de vida que nos leva ao prazer e ao desejo por novos acontecimento”, é a energia sexual no sentido estrito, como o fenômeno do “impulso” do desejo e do prazer. Já em “Psicologia das Massas e Análise do Eu” (1921), a libido é delineada como sendo tudo que é compreendido como amor.
Agostinho discute o tema em suas duas obras mais populares: Confissões (397 d.C) e na Cidade de Deus (410 d.C), em ambos textos a libido é tratado em seus múltiplos aspectos: apetites sexuais e necessidades físicas (concupiscentia carnis), de vingança (libido ulsciendi), avareza (libido habendi pecuniam), fama (libido gloriandi), busca incondicional da vitória (libido quomodocumque vicendi), pelo conhecimento (libido sciendi); e pelo poder (libido dominandi). Certamente, mesmo antes da proposta da primeira tópica sobre a construção do inconsciente a análise agostiniana traz a reflexão sobre a força da libido nos vários aspectos da vida.
Um contraste importante entre o libido e sexualidade para Feud e Agostinho é a interpretação agostiniana de que o corpo é libidinoso, e é essa libido que deve ser afastada, pois, se opõe a natureza sacra de Deus. Agostinho chega a argumentar que a relação sexual precisa ser desprovida da libido; enquanto que para Freud a libido deve ser valorizada, basta observar os estudos freudianos sobre a sexualidade das crianças e das mulheres.
De certo modo, Freud estava a propor que a construção da cultura contemporânea tem uma forte relação simbiótica com a “cultura” da repressão da instintos sexuais.

SOBRE A PULSÃO

É importante ressaltar que na perspectiva freudiana, ambas as teorias das pulsões têm sua relação dualistas. A primeira se estabelece entre as pulsões do Ego (autoconservação) e de caráter sexual. Já a segunda está na oposição entre a pulsão de vida e a de morte.
A pulsão é definida como uma relação dinâmica que se estabelece em um tipo de força motriz que impulsiona o organismo em direção ao seu objeto, por esse motivo a pulsão não é estática, mas fluida e parcial, assim, Freud também declara que o objeto precisa suprir o estado de tensão.
A pulsão de vida são as de auto conservação e pulsões sexuais e possuem um caráter construtivo, pois, conservam e constroem as unidades vitais. Já a pulsão de morte é uma força oposta, uma vez que tendem a aniquilação das unidades vitais; desta maneira, a pulsão de morte está presente em todo ser vivo, uma vez que esta conduz a um estado anorgânico.
Vale lembrar que Freud categorizou a pulsão de agressão (destruição) como sendo descendente da pulsão de morte, pois trata-se de uma reação terapêutica negativa e sentimento de culpa

PRINCÍPIO DE NIRVANA

O conceito do Principio de Nirvana já vinha sendo utilizado por uma das fundadoras da Sociedade Britânica de Psicanálise chamada Barbara Low (1877 – 1955), ela descreve como sendo uma inclinação do aparelho psíquico para a redução das tensões de excitação interna, quer dizer: um maneira de apaziguar e extinguir o desejo humano a fim de produzir no aparelho psíquico um estado de felicidade. É uma expressão da pulsão de morte, pois, como já dito, a pulsão de morte se objetiva no estado anorgânico.

O PRINCIPIO DA REALIDADE E O PRAZER.

De certa forma, o inconsciente está alicerçado em uma dialética entre o principio do prazer e o principio da realidade. O princípio do prazer trata-se de busca (desejo) por tudo aquilo que traz prazer, satisfação; já o principio da realidade corresponde a realização do prazer quando este for passivo de realização. Uma forma de tomar consciência dentro da realidade vivida, tentando estabelecer as condições para que o prazer possa ou não ser atendido (realizado).
Freud destaca que “[o ego] consegue discernir se a tentativa de obter satisfação deve ser efetuada ou adiada.”
Do ponto de vista clínico tanto a ansiedade quanto as neuroses estão intimamente ligadas ao princípio do prazer, uma vez que o neurótico e o ansioso tem uma forte inclinação a satisfação dos seus desejos imediatos.

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QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1991